Gravidez e covid-19: quais os riscos e por que a vacinação é importante?
Planejar, esperar, controlar a ansiedade: a gravidez é um momento de emoções distintas, sobretudo para quem gera o bebê. Mas, no contexto da covid-19, os cuidados precisaram ser redobrados e, com isso, cresceu também a tensão.
Gestantes e puérperas até o 14º dia após o parto fazem parte do grupo de risco para o novo coronavírus, lembra a infectologista Camila Almeida, do Grupo Santa Joana. “Elas têm maior risco de hospitalização e admissão em UTI (Unidade de Terapia Intensiva). As complicações mais observadas nas gestantes com infecção por covid-19 são partos prematuros, restrição de crescimento fetal e eclâmpsia (grave complicação, que inclui convulsões e hipertensão arterial entre os sintomas)”, explica.
Uma pesquisa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) aponta que a doença causou partos prematuros em 63% das 71 mães acompanhadas. Elas apresentaram teste positivo para a doença no momento do parto ou receberam o diagnóstico ao menos duas semanas antes do nascimento da criança.
Em bebês prematuros, alerta Almeida, há risco de imaturidades anatômica e fisiológica, associadas ao baixo peso e que aumentam os riscos de morbidade infantil. Há também temor sobre a covid-19, que pode ser transmitida ao bebê pelo contato com um dos pais infectados ou de forma intraútero — rara, “é relatada em torno de 3% das gestações de mães infectadas no segundo ou terceiro trimestre”, afirma Almeida.
Porém, é importante observar que o estudo da USP foi realizado entre março de 2020 e março de 2021, ainda sem vacinação. “A imunização é a medida mais eficaz para a prevenção da covid-19 grave. Após o início das campanhas, houve redução importante de casos graves em gestantes e puérperas, estando atualmente concentrados nas não vacinadas”, detalha a infectologista Camila Almeida.
Manter o distanciamento social, evitar aglomerações, usar máscara, higienizar as mãos com água, sabão e álcool gel também são cuidados essenciais. No entanto, a especialista reforça que, por mais que as medidas ajudem a reduzir os riscos de contaminação, as vacinas ainda assim são imprescindíveis para minimizar desdobramentos mais críticos.
“Estudos realizados em grávidas vacinadas não observaram complicações, abortos, más-formações fetais ou trabalho de parto de prematuro em relação às gestantes que não receberam a vacina. Outro ponto importante é que a vacina deve ser indicada em qualquer trimestre da gestação, inclusive dose de reforço”, afirma Almeida.
Estão liberados os imunizantes Pfizer e CoronaVac, que não possuem vetor viral. Mulheres que apresentarem sintomas gripais ou diagnóstico positivo para a covid-19 devem respeitar o protocolo e esperar quatro semanas para receber a dose, mesmo já tendo iniciado o cronograma vacinal.
Mais complicações
Na Escócia, um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Edimburgo apontou maior risco de aborto em grávidas não vacinadas. A equipe analisou dados de 87 mil grávidas entre dezembro de 2020, quando a campanha de imunização começou no país, e outubro de 2021.
A taxa de mortalidade perinatal relacionada à covid-19 foi de 23 por mil nascimentos — antes da pandemia, os índices no país eram de 6 por mil nascimentos.
“Descobrimos que complicações graves conhecidas por estarem associadas ao novo coronavírus na gravidez, como admissão em cuidados intensivos e mortalidade perinatal, foram mais comuns em mulheres não vacinadas no momento do diagnóstico de covid-19 do que em mulheres grávidas vacinadas”, escrevem os cientistas no estudo publicado na Nature em janeiro. “Nossos dados apoiam a importância de as mulheres serem vacinadas na gravidez para evitar resultados adversos associados à doença”.
Segundo a infectologista do Grupo Santa Joana, a evolução para formas graves pode acontecer em qualquer momento da gestação, mesmo com piora observada nos últimos dois trimestres. Mulheres com comorbidades, como as cardiopatas, pneumopatas, diabéticas e obesas, devem ter atenção redobrada.
Manter a calma
Em caso de contaminação, é importante ter calma e manter contato com a equipe médica para monitorar eventuais mudanças na saúde da grávida e do bebê, e inclusive checar a hora correta de ir ao hospital.
A especialista Camila Almeida também lembra que a maioria das infecções não evolui com complicações. “No entanto, gestantes que apresentem tosse persistente, febre alta, falta de ar, cansaço, dor no peito ou sintomas obstétricos como contrações, dor abdominal e diminuição da movimentação fetal, devem ser avaliadas em ambiente hospitalar”, orienta.